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Líder indígena falou para comunidade acadêmica da Ufam
Daisy Melo (texto e fotos)
“O branco não está amando a Amazônia, está destruindo. É preciso cuidar da Amazônia como vocês cuidam da sua mãe, da sua casa, foi assim que eu aprendi a defender, e é assim que eu queria que o jovem aprendesse também, porque a luta continua, ela não vai parar”. Essa foi uma das mensagens do xamã, Davi Kopenawa, proferidas durante a palestra “Palavras de um xamã Yanomami” no dia 22 de abril na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), a qual a ADUA prestigiou.
Kopenawa veio a Manaus para participar no dia 23 de abril da defesa de mestrado de Odorico Xamatari Hayata Yanomami; Edinho Yanomami Yarimina Xamatari e Modesto Yanomami Xamatari Amaroko, no Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Cultura na Amazônia da Universidade Federal do Amazonas (PPGSCA/UFAM), que promoveu a palestra no auditório Eulálio Chaves. Os três indígenas são professores do ensino básico no Rio Marauiá, em Santa Isabel do Rio Negro e apresentaram as dissertações baseadas em suas ancestralidades, línguas e tradições.
Sobre a questão ambiental, o líder indígena criticou o Marco Temporal e as práticas predatórias do garimpo ilegal nas Terras Indígenas. O xamã alertou que a humanidade sofrerá as consequências, caso não acabe com a devastação do meio ambiente. “Se não sobrar um Yanomami, o nosso mundo vai chorar, a Mãe Terra vai se vingar, ela já está se vingando, muita chuva, a cidade vai alagar, sem Yanomami, não tem floresta, o nosso mundo vai sofrer”. Kopenawa destacou que aprendeu a Língua Portuguesa justamente para “defender o povo, a Mãe Terra, a nossa floresta, nossas águas, nossas origens, nossa pesca e para que os índios continuem em pé”.
Educação
O xamã também afirmou que a educação oferecida hoje aos povos originários ainda não é a sonhada por eles. Para os governantes, o líder indígena pediu mais ação. “As autoridades ficam só falando de educação e saúde, não queremos ficar só escutando promessa. O povo Yanomami precisa de escola, o governo Lula deu R$ 33 milhões há nove ou dez meses, mas cadê a escola? As pessoas não estão trabalhando. O que estão fazendo? O que está faltando? Essa é minha luta e eu vou continuar. O dinheiro é nosso”. Em agosto de 2024, os ministérios dos Povos Indígenas e da Educação anunciaram o repasse de R$ 32 milhões para a construção de escolas nos territórios Yanomami.
Davi defendeu ainda que, ao concluírem seus estudos nas universidades, os(as) indígenas se somem à luta pelas causas dos seus povos. “Uma mensagem para todos que estão na universidade estudando, querendo ser professor, advogado, dentista, médico: ‘nos ajudem para que não acabem com nossas comunidades, voltem para casa para continuar trabalhando (...) venham lutar com o nosso povo Yanomami e outros parentes, e ensinar os não-indígenas a não estragar nossas belezas amazônicas’”.
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Odorico, Edinho e Modesto assistiram à palestra do xamã
A defesa de Kopenawa do retorno dos(as) indígenas às comunidades após os estudos é feita devido à preocupação do xamã com a manutenção da cultura e da língua indígena. “Querem acabar com nossa cultura, que a gente fale só português, querem matar nossa língua materna. Nossa língua é saber, é cultura, não acaba assim fácil não, vamos continuar a lutar para não estragar nossa raiz”, afirmou.
Ao encerrar sua apresentação, Kopenawa destacou que os(as) indígenas tiveram muitos avanços. “Nós queríamos terra grande e conquistamos a homologação, registrada e assinada pelo governo federal, que não vem sendo respeitada, mas por isso continuamos lutando; nós conseguimos o Sesai, a Saúde Yanomami; conseguimos expulsar garimpeiros da terra Yanomami: 40 mil, em 1986, e 60 mil depois do governo Bolsonaro foram mandados embora. Outros continuam escondidos e precisamos tirar eles de lá (...) nós somos vitoriosos, a força da natureza nos protege, a força da natureza está nos deixando crescer, hoje somos 32 mil Yanomami em Roraima e no Amazonas”.
Davi Kopenawa é xamã, líder Yanomami, presidente e fundador da Hutukara Associação Yanomami (HAY), que completou 20 anos de existência em 2024, e coautor das obras “A Queda do Céu” e “O Espírito da Floresta”. É também doutor honoris causa pelas Universidades Federais de Roraima (UFRR) e de São Paulo (Unifesp). Na abertura da palestra proferida no dia 22, Davi foi homenageado pelos bois-bumbás de Parintins, Garantido e Caprichoso, e pela ciranda de Manacapuru, Tradicional.
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