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  08/07/2025


Parque das Tribos recebe docentes para vivências culturais e reafirmação da luta por direitos



Artesã conduziu oficina com fibras de tucum  

 

Sue Anne Cursino

 

O segundo dia do 44º Encontro da Regional Norte 1 do ANDES-SN, em 14 de junho, foi marcado por uma andança sindical pela comunidade Parque das Tribos, na zona oeste de Manaus. Em uma área da cidade onde o verde insiste em resistir ao avanço do concreto, professores(as) foram recebidos(as) com fumaça de breu branco, cantos, flautas, danças e um silêncio respeitoso diante do sagrado.

 

O Parque das Tribos abriga atualmente indígenas de 38 povos que falam 23 línguas diferentes, configurando um dos mais expressivos territórios multiétnicos em contexto urbano no Brasil. Um lugar ainda atravessado por mata, mas já pressionado pelo entorno de empreendimentos imobiliários. Entre os povos presentes na comunidade estão Munduruku, Sateré-Mawé, Tikuna, Tucano, Baniwa, Tarianos, Dessanos, Mura, Kambeba e Marubo.

 

A visita teve como proposta o fortalecimento do diálogo entre o movimento sindical docente e as lutas indígenas por permanência, reconhecimento e políticas públicas específicas. A recepção foi marcada por um ritual conduzido pelo cacique Ismael Munduruku, que também realizou o benzimento de uma criança Tikuna. “Cada um tem seu jeito de apresentar seus filhos aos deuses, aos espíritos. E esse é o nosso”, disse.

 

As apresentações culturais destacaram a força espiritual e a resistência dos povos originários, com cantos entoados ao som de flautas e chocalhos. Também foram compartilhadas práticas ancestrais por meio da produção de pinturas e grafismos corporais feitos com urucum e jenipapo. Na maloca, o cheiro do breu ainda queimava quando alguns e algumas docentes começaram a receber grafismos com jenipapo nos braços: a cobra, símbolo de proteção; a flecha mura, como guardiã. Enquanto isso, crianças corriam e brincavam ao ar livre ao redor da maloca.

 

Educação e resistência

 

No “Espaço Cultural Indígena Uka Umbuesara Wakenai Anumarehit”, onde as crianças estudam a língua materna e conhecimentos tradicionais indígenas, uma dança foi apresentada pelas crianças, que acenavam felizes aos(às) visitantes. Logo na entrada da escola, os recados mostravam que ali se fala outra língua, se vive outra história. Na parede, um cartaz em português e em nheengatu dava as boasvindas: “Não entre com sua sandália aqui na nossa casa de aprender. Obrigado”.

 

A professora Cláudia Baré, que atua na escola desde 2015, falou sobre sua atuação voluntária em atividades extracurriculares, atualmente realizadas aos sábados. “A história do povo indígena não se resume a uma hora, mas a décadas”, afirmou.

 

A comitiva também visitou o Ateliê Derekine (“saúva brava”, na língua Witoto), onde mulheres indígenas confeccionam roupas inspiradas em seus territórios e ancestralidade. Criado durante a pandemia da covid-19, o espaço tornou-se referência de geração de renda e fortalecimento cultural feminino.

 

No posto de saúde da comunidade, um jardim medicinal com ervas de cura reforça a sabedoria ancestral como prática de cuidado tradicional. Nas ruas, murais pintados anunciam em traços e cores: aquele chão tem dono, tem memória, tem identidade.

 

 Docentes visitam maior bairro indígena de Manaus 

 

Alimentar o corpo, nutrir a alma

 

A cozinha do senhor Guilherme foi emprestada para o preparo do almoço pela Cozinha Boca da Mata, sob a coordenação da chef Renata Mura ou Renatinha Peixe-boi, como é conhecida. Peixe assado, beiju, arroz, pimenta, limão, açaí, melancia, banana e creme de cupuaçu compuseram uma refeição farta e cheia de significado.

 

À mesa, entre risos, conversas e sabores, os(as) indígenas conversavam em suas línguas. Quem era de fora apenas escutava sem entender, mas ciente de que ali habitava algo precioso demais para ser traduzido.

 

Nas mesas, artesãos(ãs) vendiam colares, bolsas, roupas, brincos — alguns sendo confeccionados na hora, diante dos olhos dos(as) participantes. Na oficina de tucum, conduzida por Natalia Tikuna, o fazer manual se tornava também gesto de resistência. Ela explicou todo o processo, da extração das folhas à confecção das peças, ressaltando o vínculo entre técnica e identidade.

 

A presidente da ADUA (2024-2026) e vice-presidente da Regional Norte 1 (2023-2025), Ana Lúcia Gomes destacou a importância do ANDES-SN inserir na programação atividades que possibilitem integração e vivência com a realidade local, para além dos debates acadêmicos e políticos.

 

Para a docente do Instituto de Ciências Exatas e Tecnológica (Icet/ Ufam Humaitá), Márcia Pena, a educação indígena, dos(s) caboclos(as) ribeirinhos(as) e dos(as) quilombolas é um tema muito importante para quem atua na docência na Amazônia, especialmente no contexto do ensino superior.

 

“A gente precisa trabalhar mais isso, entender o que está acontecendo, como está acontecendo, e refletir sobre as políticas afirmativas: como estão sendo implementadas, de que forma estão chegando às comunidades. Essa visita proporcionou uma boa reflexão sobre tudo isso. Além disso, houve uma interação muito rica com companheiros de outros estados, o que fortalece o movimento sindical. Essa conexão é muito importante e enriquecedora. Mesmo nós, que somos amazonenses, muitas vezes não conhecemos o Parque das Tribos. Eu mesma só tinha vindo aqui há uns 20 anos. Revisitar esse local hoje, ver como ele cresceu, como se expandiu, foi muito bacana. Só tenho a agradecer por essa experiência significativa”, avaliou a docente.

 

Protagonismo das mulheres

 

Ao final da visita, foi destacada a atuação das mulheres indígenas do Parque das Tribos como protagonistas da resistência e da preservação cultural. A presença feminina se manifesta nas línguas, no artesanato, na culinária, na dança e no ensino, consolidando o bairro como território de luta e diversidade.

 

O que se levou não foram só registros no celular, mas também a experiência marcada no corpo por meio do grafismo, no olhar o encantamento e, na consciência, a certeza de que a universidade e o movimento sindical precisam caminhar com mais escuta e presença junto aos territórios que vivem e resistem para além dos muros.

 

 

Fotos: Sue Anne Cursino/ Ascom ADUA 

 



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