Sue Anne Cursino (Texto e fotos)

Manifestação denunciou ataque imperialista ao Brasil
A ADUA – Seção Sindical do ANDES-SN – integrou a Jornada Brasil Soberano, realizada simultaneamente em várias cidades no dia 1º de agosto, no contexto em que o governo dos Estados Unidos anunciou a aplicação de uma sobretaxa de 40% sobre produtos brasileiros exportados ao país, que já tinha uma tarifa de 10%, totalizando 50% de taxação a partir de 6 de agosto.
Diversas mobilizações reacenderam o debate sobre a soberania do Brasil e os interesses que motivam as ações de Donald Trump em relação à democracia e ao Estado de Direito do país. Em Manaus, o ato ocorreu no Centro da capital amazonense e reuniu entidades sindicais, movimentos sociais, estudantis e coletivos populares, que protestaram contra o chamado “tarifaço” de Donald Trump, caracterizada como forma de pressão internacional, diante da proximidade do julgamento dos responsáveis pela tentativa de golpe de Estado no final de 2022, que resultou nos eventos de 8 de janeiro de 2023.
Além da ADUA, participaram da organização da manifestação a União Estadual dos Estudantes do Amazonas (UEE-AM), o Diretório Central dos Estudantes da Ufam (DCE-UFAM), a UESA Livre, o Sindipetro, o SINTESAM e outros movimentos estudantis, sindicais e populares.
A manifestação começou na Praça da Polícia, percorreu a Avenida 7 de Setembro e seguiu em caminhada até a Praça do BK, em frente ao Palácio Rio Negro. Durante o trajeto, manifestantes entoaram palavras de ordem como “Sem anistia e sem perdão, eu quero ver Bolsonaro na prisão”.
A presidente da ADUA, professora Ana Lúcia Gomes, ressaltou a centralidade da pauta da soberania nacional: “O que está por trás de toda essa negociata não é a defesa de Bolsonaro, mas sim o interesse na riqueza da nossa Amazônia. A nossa soberania não pode ser negociada”.
Cartazes e discursos denunciaram políticas antinacionais e autoritárias, reafirmando a luta por justiça fiscal, ambiental e social. As reivindicações incluíram: fim da escala 6x1; redução da jornada de trabalho sem diminuição de salários; taxação dos super-ricos; isenção de Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil; rejeição ao “PL da Devastação”; e fim do genocídio em Gaza.
Ceane Simões, docente filiada ao SindUEA – Seção Sindical do ANDES-SN, criticou a negligência do governo do Amazonas diante das demandas da categoria docente e do impacto da pandemia de Covid-19: “É com muita satisfação que a gente se faz presente juntamente com o movimento estudantil. É isso que queremos: justiça! O Amazonas sofreu com o genocídio provocado por Bolsonaro e seus aliados. Aqui sabemos quem são nossos inimigos: Wilson Lima, que não recebe professores para negociar, nem da educação básica, nem da superior. Não vamos aceitar esse tipo de humilhação da extrema-direita, tão deletéria ao nosso estado”.

Mote “Sem anistia e sem perdão” marcou manifestação nas rua
O recado das ruas foi claro: a soberania do Brasil não está à venda. O ANDES-SN esteve presente nos protestos em diversos estados, por meio de suas seções sindicais, reforçando a defesa de investimentos na educação pública, com a destinação de 10% do PIB para o setor e a ampliação do acesso de pessoas negras, indígenas, quilombolas e transgênero ao ensino superior. “O Brasil é das brasileiras e dos brasileiros, e não vamos admitir que esse imperialismo siga interferindo na nossa política nacional. Nós entendemos também que é fundamental o nosso engajamento para que o Brasil rompa relações diplomáticas com Israel. É inadmissível que nossas universidades, nossos institutos de pesquisa, ainda mantenham acordos de cooperação técnica de pesquisa com instituições que são patrocinadas pelo estado de Israel, um estado genocida”, afirmou a 2ª vice-presidente do ANDES-SN, Letícia Carolina, durante manifestação em Brasília (DF).
Denúncia ao ataque imperialista
Segundo o ANDES-SN, o “tarifaço” de Trump representa uma ação estratégica de chantagem e controle econômico. Entre os interesses atribuídos à medida estão: o acesso dos EUA às reservas minerais estratégicas brasileiras; o interesse das big techs em interferir no Plano Nacional de Data Centers; e a tentativa de frear o desenvolvimento de setores industriais estratégicos, como energia verde, aviação e semicondutores.
Em entrevista ao Sindicato Nacional, o 1º vice-presidente da Regional São Paulo e encarregado de Relações Sindicais do Sindicato, professor Marcos Soares, analisou o cenário:
“O Trump lidera hoje um projeto global da extrema direita, com articulações em países da Europa, Israel, alguns contatos no Oriente Médio e a Argentina, na América Latina — onde se alinha diretamente a figuras como Bolsonaro e sua equipe. O tarifaço anunciado pelos EUA não mira apenas o Brasil, mas aqui teve um tratamento particular: não houve negociação oficial, e a medida veio acompanhada de pressões políticas, como a defesa pública de Bolsonaro e críticas infundadas ao sistema judiciário brasileiro. Trata-se de uma ofensiva em duas frentes — econômica e política — para proteger aliados e interferir em processos internos, como não culpabilizar Bolsonaro por tentativa de golpe”.
Para o docente, é fundamental que trabalhadoras e trabalhadores se posicionem diante dessas ofensivas: “Do ponto de vista político, trata-se de defender a soberania nacional. Estamos assistindo uma aliança da extrema direita dos Estados Unidos, com Donald Trump como liderança global desse campo, em conluio com a extrema direita brasileira”.
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