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  04/09/2025


Arte e resistência: Fotografia amazônica como resistência: o olhar de Raphael Alves



Imagem do ensaio “Quando secar o rio da minha infância” (Foto: Acervo de Raphael Alves)

 

Sue Anne Cursino

 

Antes mesmo de ter uma câmera em mãos, o fotógrafo amazonense Raphael Alves já habitava o universo das imagens. Entre as referências que recorda estão os traços de super-heróis desenhados com os amigos, a leitura de quadrinhos e mangás, como Turma da Mônica e histórias de super-heróis, além do contato com animes.

 

Seu crescimento foi acompanhado de amadurecimento do interesse pela literatura, pelos movimentos artísticos, pelo simbolismo e pelas vanguardas. Essa sensibilidade visual foi crescendo, assim como as grandes árvores que brotam no solo amazônico.

 

O trabalho fotográfico que Raphael produz compõe um mosaico de olhares sobre a Amazônia. E neste boletim, a ADUA compartilha um pouco sobre a trajetória deste fotógrafo que também teve seu trabalho estampado nos materiais da entidade sindical.

 

Nascido em Manaus (AM), Raphael Alves é formado em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Também estudou Fotografia na Universidade Estadual de Londrina (UEL) e Artes Visuais no Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac). Em Londres, obteve o título de mestre em Fotojornalismo e Fotografia Documental pela London College of Communication / University of the Arts.

 

Membro do projeto Everyday Brasil, o fotógrafo atua como colaborador de agências e veículos nacionais e internacionais na cobertura da Amazônia e coleciona prêmios ao longo de mais de 20 anos de carreira, como: Leica X Photo Contest, (2014); Pictures of the Year Latin America (POY Latam), em 2017 e 2021; Pictures of the Year International (2022) e The Nature Conservancy Contest (2023). Em 2025, suas obras passaram a integrar o acervo da Biblioteca Nacional da França.

 

Esse reconhecimento vem de uma trajetória construída desde a infância, quando morava no Rio de Janeiro e visitou exposições que o aproximaram ainda mais do mundo das imagens, como as do escultor Auguste Rodin e do pintor Claude Monet. “Uma vez, fui fazer um trabalho escolar e, na casa de uma colega, cujos pais eram professores e intelectualmente ligados à cultura, encontrei o livro Tête à Tête, de Henri Cartier-Bresson. Eu ainda não tinha ideia do que seguiria profissionalmente, mas aquilo mexeu comigo”, disse.

 

Já em Manaus, Raphael escolheu cursar jornalismo porque a grade curricular incluía a disciplina de fotografia. E foi na universidade que construiu uma relação de aprendizado com o professor Carlos Dias, conhecido como Carlão. “Ele me emprestava equipamentos, filmes, papéis fotográficos e me ajudava a revelar. Embora as aulas fossem apenas duas vezes por semana, eu vivia no laboratório com ele. Aprendi muito e me afeiçoei bastante ao professor”.

 

Aos 17 anos, Raphael também trabalhava como professor de inglês. Com o dinheiro que recebia, comprou sua primeira câmera. “Nos intervalos das aulas, eu ia ao centro de Manaus fazer fotos das pessoas, revelando depois em um laboratório na praça da Matriz”.

 

Próximo de concluir o curso de jornalismo, iniciou sua trajetória no jornalismo diário, teve passagens pela A Crítica, Amazonas em Tempo e Diário do Amazonas. Desde 2018, atua como fotógrafo no Tribunal de Justiça do Amazonas.

 

Experiência Internacional

 

Raphael, que, além da língua portuguesa (que ele brinca dizendo que gostaria que fosse chamada de ‘língua brasileira”), também fala inglês e espanhol, pôde exercitar sua fluência no francês durante sua participação na conferência “A Fotografia Brasileira Contemporânea”, promovida pela Biblioteca Nacional da França, em Paris, em julho deste ano.  No evento apresentou obras Riversick e Quando as Águas, este último ainda não lançado no Brasil. “Quando as águas é um trabalho documental sobre como nos relacionamos com o ciclo das águas. Espero muito poder lançá-lo também em Manaus, na nossa terra”.

 

Raphael durante a apresentação de seu projeto de foto grafia documental “As Doenças da Margem”, em Medellín (Foto: cervo de Raphael Alves 

 

Em agosto deste ano, Raphael participou do II Festival Fotográfico de Medellín, sendo o único brasileiro entre os 48 selecionados para o primeiro laboratório documental de fotografia da América Latina. “Sem dúvidas, foi uma das maiores experiências que já tive na carreira, um intercâmbio com colegas talentosos e com trabalhos documentais cheios de vida. São produções que nascem de dentro para fora, que retratam acontecimentos muitas vezes invisibilizados por não estarem sob os holofotes”.

 

Uma outra Manaus

 

Seu mais recente livro em circulação, Riversick (2024), apresenta um ensaio em que pessoas e natureza coexistem em uma narrativa que dispensa legendas, datas ou localizações. As imagens falam por si: dialogam com seus interlocutores. “É uma série de questionamentos que tenho sobre o espaço que Manaus ocupa em mim. Elas não trazem a cidade em que vivemos, mas a Manaus que vive em mim, que me habita antes mesmo que eu possa compreender o espaço que nos cerca”, explica.

 

Ecos visuais

 

Raphael também publicou o fotolivro Insulae (2020), pela Artisan Raw Books, obra que retrata a pandemia de Covid-19 em Manaus e cuja venda destinou recursos à Associação de Mulheres Indígenas Sateré-Mawé, durante o período pandêmico.

 

Para conhecer mais sobre o trabalho de Raphael é possível navegar entre diversas imagens no seu site.

 

As fotos são impactantes, desde a cobertura da pandemia, da crise no território Yanomami, da seca e da cheia das águas na Amazônia.  “Aqui está todo o meu imaginário, a família da minha mãe, e com certeza isso aparece nas fotografias. Interesso-me pelas questões da nossa região, do nosso espaço-tempo, mas sob uma perspectiva de dentro para fora. São questões que estão dentro de mim e, certamente, em todos nós que nascemos e vivemos aqui. O Amazonas sempre esteve, de certa forma, à margem do país, e cada estado do Norte sofreu isso à sua maneira. Isso influencia muito e determina minha linguagem, quem sou como pessoa, antes mesmo de ser fotógrafo. Já estive fotografando em outras cidades, mas meu trabalho, meu portfólio, minha linguagem, desenvolvo aqui, porque aqui entendo os códigos, as questões culturais, a maneira de falar, as referências externas que ecoam dentro do que carregamos”.

 

Essa linguagem fotográfica também se destaca na capa da edição nº 5 da revista Resistências, publicada pela ADUA em 2023 e na capa da Resistências nº 6, edição em que o fotógrafo também publicou o ensaio um olhar sobre a Amazônia do Século XXI.



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