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Laura Miranda fez um balanço da atua ção do GT Mult-Front da ADUA - Foto: Sue Anne Cursino/ Ascom ADUA
Sue Anne Cursino
Nos dias 26 e 27 de setembro de 2025, ocorreu a reunião do Grupo de Trabalho de Multicampia e Fronteira (GT Multi-Front), na sede do ANDES-SN, em Brasília (DF), com participação de representantes de diversas seções sindicais para atualizar o debate sobre os desafios e avanços da Multicampia nas universidades federais.
Para aprofundar o entendimento sobre os encaminhamentos e as perspectivas de atuação do GT, a ADUA entrevistou a professora Laura Miranda, docente do Instituto de Educação, Agricultura e Ambiente (IEAA) da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), campus Humaitá. Ela compartilhou as principais novidades e avaliações referentes às atividades desenvolvidas pelo GT Multi-Front.
ADUA: Professora, antes de falar diretamente sobre a reunião, você poderia explicar o que trata o GT Multi-Front?
Laura: O GT Multi-Front tem como finalidade promover o debate nas bases sobre todos os aspectos que envolvem as especificidades das Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes) que adotam o modelo de multicampia e/ou que se localizam em regiões de fronteira. A partir desse diálogo, busca-se elaborar propostas que possam se configurar em direitos para os servidores docentes, considerando que está diretamente ligado ao ANDES-SN.
ADUA: Atualmente, como está estruturado o GT Multi-Front na ADUA?
Laura: Atualmente, o GT Multi-Front na ADUA é coordenado pela professora Maria Audirene de Souza Cordeiro, do Instituto de Ciências Sociais, Educação e Zootecnia (ICSEZ), campus da Ufam em Parintins-AM, e pelo professor Jordeanes do Nascimento Araújo, docente do Instituto de Educação, Agricultura e Ambiente (IEAA), campus da Ufam em Humaitá, contando com a participação de docentes dos campi da Ufam em Manaus, Humaitá, Parintins, Coari e Benjamin Constant.
Apesar dos desafios logísticos e da própria dinâmica das Ifes multicampi, o GT tem conseguido se reunir dentro das condições possíveis, participando ativamente de reuniões regionais e nacionais. Nos dias 13, 14 e 15 de março de 2025, por exemplo, houve a participação de 11 representantes do GT no II Seminário de Multicampia e Fronteira, realizado em Boa Vista (RR). Os encaminhamentos e debates desse evento serviram de base para a elaboração do Plano de Trabalho do GT na ADUA, que vem sendo sistematizado em reuniões remotas periódicas para deliberações e acompanhamento das ações.
O grupo encontra-se em processo de consolidação do seu Plano de Trabalho para 2025, com previsão de desdobramentos para 2026. O acúmulo das discussões resultou na definição de 17 metas, algumas de curto prazo, a serem alcançadas em até 120 dias após o reconhecimento e referendo pela entidade sindical, e outras de luta permanente. A responsabilidade pela execução foi distribuída entre os membros do GT, as unidades locais e a ADUA. E, mais recentemente, houve a minha participação na reunião nacional em Brasília-DF, que dentre os pontos debatidos, discutimos sobre o Adicional de Atividades Penosas.
Considero que o GT tem uma relevância expressiva no contexto do sindicato, sobretudo por pensar as peculiaridades vividas nas regiões de multicampia e fronteira, aspectos que apenas quem vivencia esse cotidiano consegue perceber com sensibilidade. A efetivação do nosso Plano de Trabalho representará um avanço significativo para a categoria, tanto no levantamento de dados concretos quanto na formulação de ações e estratégias para a garantia de direitos e o fortalecimento da luta docente.
ADUA: Quais foram os principais pontos da reunião do Grupo de Trabalho (GT) de Multicampia e Fronteira, realizada nos dias 26 e 27 de setembro de 2025?
Laura: A reunião realizada nos dias 26 e 27 de setembro de 2025 teve como pauta central o debate sobre a regulamentação do Adicional de Atividades Penosas, conforme o artigo 71 da Lei nº 8.112/90, proposta que já havia sido encaminhada ao 68º Conad [Conselho do ANDES-Sindicato Nacional]. O grupo iniciou as discussões a partir de um texto base da Coordenação Nacional, chegando ao consenso de que a regulamentação deve contemplar três grandes áreas: Zonas de Fronteira, Amazônia Legal e Semiárido Brasileiro. Também foi destacada a necessidade de um levantamento das universidades situadas nesses territórios, considerando que os critérios de fronteira nem sempre abarcam todas as realidades vivenciadas pelos docentes.
A discussão avançou no sentido de que a definição e regulamentação do adicional devem ser imediatamente levadas à mesa de negociação nacional, tomando como referência experiências já existentes em outras categorias, como a Portaria nº 633/2010 do Ministério Público da União (MPU). O encaminhamento busca corrigir a omissão histórica reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal (ADO 74).
Entre os encaminhamentos, destacou-se a elaboração de uma cartilha nacional sobre o trabalho docente em Multicampia e Fronteira, abordando temas como infraestrutura, carreira, fixação e permanência. Também foi enfatizada a necessidade de atualização dos dados sobre evasão, vacância, remoção e redistribuição de docentes.
O GT reforçou ainda a importância de aproximar o diálogo com entidades como o Sindicato Nacional dos(as) Servidores(as) Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe) e a Federação de Sindicatos de Trabalhadores Técnico-Administrativos em Instituições de Ensino Superior Públicas do Brasil (Fasubra), a fim de fortalecer ações conjuntas. Foram discutidas estratégias de mobilização, incluindo a proposta de um seminário e de um Dia Nacional de Lutas e audiência pública no Congresso Nacional, articulada pelo ANDES-SN, para tratar especificamente da regulamentação do adicional de penosidade.
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Docentes participaram de reunião do GT Multi-Front na sede do ANDES-SN - Foto: Divulgação
ADUA: Como se deu a atualização do debate sobre a Multicampia nas demais seções sindicais?
Laura: O que foi possível perceber é que, embora as realidades sejam distintas nas diferentes regiões do país, há muitos pontos em comum entre as Instituições Federais de Ensino com estrutura multicampi. Cada uma tem suas especificidades e idiossincrasias, mas algumas questões se repetem de forma bastante evidente, especialmente no que diz respeito às condições de permanência e de trabalho dos docentes.
Em muitos locais, a questão da saúde tem se tornado um fator determinante para a permanência dos servidores. A precariedade da infraestrutura de serviços públicos, que afeta diretamente a população local, também repercute na decisão dos professores de permanecerem ou não nesses espaços.
ADUA: Como você avalia o avanço das discussões do GT Multi-Front da ADUA em relação às questões locais?
Laura: O simples fato de existir um GT que se debruce sobre essas questões, que são tão caras aos servidores docentes, já representa um avanço significativo. Há uma necessidade real de manter esse debate vivo, e o GT cumpre justamente esse papel: o de promover reflexões e propor encaminhamentos sobre temas que, muitas vezes, não encontram espaço nas pautas gerais.
Quando o sindicato cria grupos voltados para temáticas específicas e permite que sejam realizados estudos aprofundados, isso otimiza o trabalho coletivo e fortalece o embasamento político e técnico das proposições. Assim, nos momentos oportunos seja em congressos, reuniões nacionais ou processos de negociação, é possível apresentar resultados mais consistentes e propostas que realmente possam se transformar em direitos para a categoria.

Encontro foi realizado em mar ço de 2025 em Boa Vista (RR) - Foto: Sue Anne Cursino/ Ascom ADUA
ADUA: Quais são, na sua opinião, os principais desafios que ainda persistem na implementação e consolidação da multicampia nas universidades e institutos federais? Em especial aqui no Amazonas, onde estão localizados os campi da Ufam.
Laura: Acredito que um dos principais desafios para a implementação e consolidação da Multicampia nas universidades e institutos federais, especialmente no Amazonas, está relacionado às condições de saúde dos servidores. Esse é um fator que tem impacto direto na permanência e na qualidade de vida. Observa-se um número crescente de trabalhadores adoecidos, não apenas fisicamente, mas também com a saúde mental comprometida.
No contexto amazônico, essa realidade é agravada pelas próprias características geográficas e logísticas do estado. Temos campi distantes da capital, como Benjamin Constant, localizado em região de fronteira, e Humaitá, no sul do Amazonas, a cerca de 600 km de Manaus. Em muitos desses locais, o acesso a serviços de saúde é extremamente limitado, o que obriga o deslocamento para outros estados como Rondônia, no caso de Humaitá para conseguir atendimento especializado.
Considero que um dos maiores desafios para o fortalecimento da Multicampia no Amazonas é a criação de políticas efetivas que garantam condições adequadas de saúde e de trabalho aos servidores, assegurando a permanência e o exercício pleno de suas funções com dignidade.
ADUA: Quais são as perspectivas e tendências para 2026 no âmbito do GT Multi-Front? O grupo tem planejado alguma atividade de caráter nacional?
Laura: Após a sistematização do Plano de Trabalho, elaborada a partir do Plano de Lutas definido no II Seminário de Multicampia e Fronteira, em Roraima, o GT tem condições de iniciar o próximo ano com foco na execução das metas estabelecidas. O grupo seguirá com os levantamentos necessários, reuniões periódicas, debates e proposições, de modo a construir subsídios concretos que possam ser encaminhados às mesas de negociação com o governo, visando à criação e consolidação de direitos.
A expectativa é que seja possível consolidar resultados a serem socializados com as demais seções sindicais e com o ANDES-SN, fortalecendo o debate nacional sobre a Multicampia e Fronteira.
É importante considerar que o cenário nacional traz desafios adicionais para 2026. A tramitação da Reforma Administrativa, somada ao contexto de ano eleitoral, pode gerar incertezas quanto à manutenção de direitos e à definição orçamentária para a educação pública. Acredito que o trabalho do GT permanece essencial, tanto para sustentar o debate em defesa da valorização docente, quanto para garantir que as especificidades das Ifes de multicampi e fronteira continuem pautadas nas instâncias de negociação e luta sindical.
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