
Docentes da Ufam e da UEA marcaram presença em manifestações pró-Palestina em Manaus - Foto: Daisy Melo Ascom ADUA
Daisy Melo
Em outubro, mês em que se completou dois anos do início do genocídio na Palestina, com a perda de 68 mil vidas, a ADUA integrou atividades pelo fim do holocausto na Faixa de Gaza. A Seção Sindical somou forças, no dia 04, à vigília pela liberdade para a flotilha Global Sumud, que tentou levar ajuda humanitária à região, e no dia 08, ao Debate sobre a Questão da Palestina, trazendo mais uma vez a discussão necessária do tema para dentro da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). E a luta contra o fim do apartheid na região permanece mesmo após o anúncio do “cessar-fogo” em que se continua a contar mortes.
A vigília em Manaus pela liberdade da flotilha – composta por cerca de 420 ativistas de 44 países, entre eles(as) 13 brasileiros(as) – tomou o Largo de São Sebastião, no Centro histórico da cidade. Com bandeiras e cartazes, os(as) manifestantes discursaram e reivindicaram o rompimento das relações do governo brasileiro com Israel. O ato foi convocado pela Aliança pela Libertação da Palestina (ALP) Manaus e contou com a participação de integrantes de movimentos sociais e populares, sindicatos, central sindical e partidos políticos.
Em seu discurso durante a manifestação, a presidente da ADUA, professora Ana Lúcia Gomes, frisou que o ANDES-SN possui resoluções em favor da causa palestina e tem continuamente denunciado o genocídio na Faixa de Gaza. “Nós do movimento estamos juntos com todos os palestinos e com todos aqueles que sofrem qualquer tipo de atrocidade, porque o que estão fazendo na Palestina é uma atrocidade. Que nossas vozes reverberem nos nossos espaços, onde tivermos a possibilidade, porque não devemos justificar uma violência dessa natureza, que inclusive tem sido televisionada”, disse. A docente frisou ainda que não se pode fechar os olhos para tantas mortes, principalmente de crianças e mulheres.
Integrante da ALP Manaus e da Aliança Revolucionária dos Trabalhadores (ART) e professora da Ufam sindicalizada à ADUA, Gisele Costa, ressaltou em seu discurso durante o ato que Israel é um Estado assassino, que comete mais um crime: o sequestro em águas internacionais. “Enquanto os governos do mundo todo não ajudaram Gaza, deixaram o povo palestino à míngua, centenas de lutadores entraram em barcos e foram levar alimentos e remédios para Gaza, que neste momento sofre o maior genocídio do século 21. Esses ativistas foram sequestrados por militares que não se envergonham em matar mulheres e crianças na Faixa de Gaza”, denunciou a docente.
Além da ADUA, ANDES-SN, ALP Manaus e ART, também participaram da vigília o Sindicato dos Docentes da Universidade do Estado do Amazonas (Sind-UEA), Coletivo Luta Educador, Movimento de Luta dos Trabalhadores Independentes (MLTI), Unidade Popular (UP), Juventude Manifesta, União da Juventude Comunista (UJC), Rebeldia, Movimento Olga Benário, Central Sindical Popular Conlutas (CSP-Conlutas) e os Partidos Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU/AM) e Comunista Brasileiro Revolucionário Amazonas (PCBR/AM).
Apoio global
Também foram registradas manifestações pela liberdade da flotilha na Avenida Paulista, em São Paulo (SP), no dia 05 de outubro, e em frente ao Palácio do Itamaraty, em Brasília (DF), no dia 02. Esta última, que contou com a participação do ANDES-SN, reuniu estudantes, professoras(es) e representantes de movimentos sociais, sindicais e estudantis. No mesmo dia, uma delegação composta por três representantes, entre eles(as) a 3ª vice-presidente do Sindicato Nacional, Annie Hsiou, se reuniu com uma representação diplomática para cobrar uma ação imediata do governo brasileiro. Grandes atos públicos contra o genocídio palestino também foram registrados no mês de outubro em países como Holanda, Portugal, Espanha e Argentina.
Crime de guerra
Após sair da Tunísia no dia 15 de setembro, a flotilha Global Sumud foi interceptada, no dia 01 de outubro, e ativistas foram detidos(as) por militares israelenses, ao tentarem romper o bloqueio ilegal da Faixa Gaza, para levar mantimentos à população. “Este é um sequestro ilegal, em violação direta ao direito internacional e aos direitos humanos básicos. Interceptar embarcações humanitárias em águas internacionais é um crime de guerra”, destacou, na ocasião, o Movimento Global a Gaza, responsável pela organização da flotilha. Entre as(os) ativistas estavam a ativista sueca Greta Thunberg que relatou ter sofrido maus-tratos durante a detenção.

ANDES-SN participou de ato pela libertação da flotilha Global Sumud, no dia 2 de outubro - Foto: Eline Luz/ ANDES-SN
No mesmo dia da interceptação, o ANDES-SN emitiu uma nota pela libertação imediata das(os) militantes. “A Global Sumud Flotilla representa muito mais que uma ação de solidariedade internacional: é um símbolo de coragem e resistência frente ao silêncio cúmplice de diversos países diante do genocídio praticado por Israel contra o povo palestino (...) O ANDES-SN exige do governo brasileiro a adoção imediata de todas as medidas diplomáticas, consulares e de proteção internacional para assegurar a liberação e a integridade física dos(as) brasileiros(as) sequestrados(as) por Israel”, destacou a entidade.
Universidades
A ADUA participou, no dia 08 de outubro, do Debate sobre a Questão Palestina, no auditório Rio Negro, no Instituto de Filosofia, Ciências Humanas e Sociais (IFCHS), no setor Norte do campus da Ufam em Manaus. A Seção Sindical foi representada pelo 1º vice-presidente da entidade, professor Raimundo Nonato da Silva. “No decorrer do debate, ficou patente que o extremismo e o racismo orientam a política de limpeza étnica na Faixa de Gaza. Por outro lado, ficou claro que o povo palestino se mantém resistente à opressão que o aflige”.

Diretor da ADUA, Raimundo Nonato Silva, compôs mesa em evento na Ufam - Foto: Divulgação
Durante a atividade organizada pelo PSTU/AM para marcar os dois anos de genocídio na Faixa de Gaza, a professora Gisele Costa destacou a importância do boicote econômico e acadêmico a Israel, incluindo das universidades brasileiras, como forma de enfrentamento ao regime sionista. Sobre esse assunto, o ANDES-SN tem se posicionado há anos em defesa da liberdade e autodeterminação do povo palestino. Em 2018, docentes aprovaram no 63º Conselho do ANDES-SN (Conad) a adesão à campanha de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) contra Israel, incentivando a prestação de solidariedade à luta palestina. No 67º Conad, também foi aprovada a luta pelo rompimento das relações diplomáticas entre Brasil e Israel.
Outro posicionamento do ANDES-SN ocorreu durante o 68º Conad, quando foi aprovado o incentivo à adoção de iniciativas para concretizar as deliberações em relação ao BDS. Para intensificar a denúncia do genocídio na Palestina, foi indicado às seções a realização de manifestações, palestras e debates em defesa do povo palestino. Também foi reafirmada a luta para fazer das instituições de ensino superior, dos institutos federais e Cefets territórios livres de apartheid.
Algumas universidades já aderiram ao boicote acadêmico a Israel. No dia 30 de setembro deste ano, a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) anunciou, durante reunião do Conselho Universitário, a rescisão unilateral do acordo de cooperação com o Israel Institute of Technology, ligada à indústria bélica e ao governo. No mesmo dia, a Universidade Federal Fluminense (UFF) rompeu o convênio com a Universidade Ben-Gurion (BGU), denunciada por parcerias com o Ministério da Defesa de Israel e empresas de armamentos utilizados em Gaza. A decisão ocorreu após a realização de atos, abaixo-assinados e acampamentos nos campi, fruto de mobilização estudantil e sindical.
O Conselho Universitário da Universidade Federal do Ceará (UFC) aprovou, no dia 6 de outubro, o cancelamento do acordo de intercâmbio e cooperação acadêmica com a Universidade Ben-Gurion, firmado em 2022. A decisão foi motivada pela pressão do Diretório Central dos Estudantes (DCE) e de movimentos sociais e sindicais. No dia 23 de outubro, foi a vez da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), que aprovou o fim do convênio com a Universidade de Haifa, de Israel, em resposta às violações de direitos humanos do povo palestino.
Além de Raimundo Nonato e Gisele, a mesa de debate ocorrida no dia 08 de outubro na Ufam contou com a participação do professor da Seduc/AM e militante do PCBR/AM, Rafael Loureiro; e do professor da rede municipal e militante do PSTU/AM, Gilberto Vasconcelos. A atividade reuniu estudantes, docentes e militantes para discutir a situação do povo palestino e os impactos da ofensiva israelense em Gaza. O evento ocorreu na véspera do anúncio de que Israel confirmou o acordo com o Hamas para a soltura dos reféns e o “cessar-fogo” em Gaza.
“É um alívio imediato para uma população que caminha a passos largos para o extermínio. Mas em médio prazo se revelará uma armadilha. Gaza seguirá ocupada de forma colonial pelas piores potências estrangeiras, sem direito à autodeterminação dos seus próprios recursos, sem direito a resistir e completamente destruída. Além disso, Israel seguirá a ocupar a Cisjordânia com colonos extremistas até a sua anexação total. Ou seja, será uma tragédia completa para a Causa Palestina”, afirmou a professora Gisele.
A professora Regina Célia da Silva, 2ª vice-presidente da Regional São Paulo do ANDES-SN, apresentou análise similar. “Trata-se, em grande medida, de uma proposta unilateral e oportunista, que não nasce de um processo verdadeiramente democrático nem envolve amplos setores da sociedade palestina. Sem a participação efetiva do povo palestino e de países dispostos a se opor ao imperialismo estadunidense e ao governo de Israel, qualquer cessar-fogo se torna apenas uma fachada diplomática”, comentou. O “cessar-fogo” foi assinado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sem a presença do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, nem de representantes do Hamas.
As análises das docentes acabaram se confirmando. Mesmo após o “cessar-fogo” no dia 10 de outubro, a soltura de reféns e a devolução de corpos – alguns com sinais de tortura e mutilados –, Israel voltou a atacar a Faixa de Gaza e a entrada de ajuda humanitária permanece bloqueada. Até o fechamento desta matéria, a imprensa internacional registrava a morte de 279 palestinos e mais de 600 feridos.
|