| Data: 14/10/2017
 
  Não são poucos os desafios da comunicação alternativa  brasileira para furar a bolha da mídia hegemônica. As desvantagens vão  desde aspectos financeiros, espaço de evidência até o uso antiético das  mídias sociais. A internet tem lugar central neste cenário, não aos  moldes do redentorismo democrático, mas como estreita tábua de salvação  no turbulento mar da comunicação reacionária impulsionada em tempos de  golpe. Neste front, imprensas sindical e alternativa são aliadas. 
 No  caminho contrário ao silêncio e à disseminação de informação  manipulada, a comunicação alternativa tem obtido vitórias. Atuando com  equipe colaborativa dividindo dedicação com o trabalho formal;  dependente de doações e atacada por processos judiciais, os canais têm  vencido disputas nesta arena. Com página no Facebook, site e canal no  YouTube, os veículos têm colocado em evidência problemas políticos e  sociais antes fora dos holofotes.
 
 Foi o que ocorreu com o catador  de latas Rafael Braga, 29, preso, no Rio de Janeiro, em junho de 2013,  por portar material explosivo, quando levava produto de limpeza.  Esquecida pelas poderosas corporações midiáticas, a história do preto,  pobre e único preso condenado devido às manifestações daquele ano ganhou  as páginas virtuais como as da Ponte Jornalismo (ponte.org).
 
 Exemplo  neste universo, a Ponte, de 2014 pra cá, passou da invisibilidade para  um incômodo para as fontes oficiais ao viralizar conteúdos de Direitos  Humanos, Justiça e Segurança Pública. - A gente era ignorada pelas fontes  oficiais e acredito que essa mudança se dá pelas pequenas iniciativas  da furada de bolha, disse Maria Teresa Cruz, jornalista da Ponte,  também primeiro veículo a divulgar a imagem do capitão do Exército  Willian Botelho, que usou o nome Baltazar Nunes para se infiltrar  entre movimentos sociais e de esquerda, em 2016. A ação ilegal foi  comparada à Ditadura Militar pelo juiz Rodrigo Tellini Camargo.
 
 Parceria
 
 Essas  e outras histórias poderiam não ser contadas sem os canais  alternativos, que têm em comum a abertura   para a voz da população.  Ponto semelhante à imprensa sindical que luta em favor da classe  trabalhadora. Sob este aspecto, a parceria está posta quanto a troca  sobre como cobrir o que é negligenciado pela grande mídia. Entre as  dicas estão: organização; colaboração; cobertura de temas de gênero e  raça para estímulo à unidade; conteúdo de qualidade com apuração  jornalística; linguagem inclusiva além do ‘sindicalês’ e uso vantajoso  das mídias sociais.
 
 Com essa dinâmica, a comunicação alternativa  se fortalece e tem pautado a grande mídia, segundo a jornalista da  Central Sindical e Popular (CSP-Conlutas), Claudia Costa. - Devemos  buscar dados para sustentar o discurso ideológico e não ficar apenas  nele, fazer jornalismo de qualidade (...) sem unidade do discurso não dá  para disputar com a hegemonia, que tem promovido o desmonte da luta  unificada, disse. Esses ataques sucessivos, inclusive, fazem parte da  tentativa de enfraquecimento da comunicação alternativa, explícita  manobra da burguesia por sua manutenção. - Está difícil comunicar porque é  altamente subversivo mostrar a realidade, por isso a perseguição à  comunicação alternativa, para que a realidade não seja mostrada, afirma  o professor do Instituto de Economia da Unicamp, Plínio de Arruda  Sampaio Júnior.
 
 Um dos golpes baixos é a disseminação de fake  news. Segundo estudo da Advice Comunicação Corporativa, do final de  2016, 42% dos brasileiros admitem ter compartilhado notícias falsas e só  39% disseram checá-las antes. O uso de bot (programa capaz de espalhar  uma notícia) é mais um agravante. O recurso tem superinfluenciado a  política brasileira, fato comprovado por uma pesquisa da Universidade de  Oxford, de junho deste ano, no ambiente propício da pós-verdade.
 
 Nesta  espinhosa estrada, a imprensa sindical avista uma aliada: a comunicação  alternativa. E, com a troca de apoio, tem o desafio de alcançar um  público além da classe que representa. Na disputa dos discursos, a  missão não é apenas informar, mas interessar e traduzir a luta para  todos os trabalhadores, representados como parte fundamental no combate à  exploração capitalista. Somar forças é o caminho.
 
 *As fontes  citadas palestraram no 5º Seminário de Unificado de Imprensa Sindical,  ocorrido de 14 a 15 de setembro, em Brasília (DF).
 
 Fonte: ADUA
 
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