| Data:16/03/2018
 
  No Brasil, a música e os  movimentos sociais sempre estiveram afinados na busca pela mobilização  popular, por mudanças político-sociais e pela liberdade de expressão.  Quem não lembra das músicas Coração de Estudante e Menestrel das Alagoas  que embalaram o movimento da Diretas Já!, em 1984? Em Manaus, no atual  contexto político do país, a música, através do maracatu de baque virado  e do samba, assume mais uma vez seu papel na defesa de direitos. 
 No  cenário local, a participação do grupo Maracatu Pedra Encantada, entre  2016 e 2017, em manifestações como o Ocupa MinC Manaus, o Basta de  Violência Contra as Mulheres, o Estamos Aqui para Viver: Ufam sem  LGBTfobia e em marchas contra a intolerância religiosa dá o tom do  engajamento social e político do “maracatu de opinião”. Este  envolvimento reflete a realidade e o diálogo entre o grupo, segundo a  estudante do curso de História da Ufam e membro do coletivo, Ramily  Frota. “Se estamos presentes numa manifestação de basta de violência  contra as mulheres é porque as mulheres do grupo têm colocado  internamente suas pautas e os demais nos acompanham. Assim ocorre também  com os membros LGBTs, povo do axé e negros", explica.
 
 Este  coletivo dedicado à difusão da arte e cultura do maracatu de baque  virado, criado no pré-carnaval de 2016, vê a rua como um lugar natural  para o batuque e onde “nenhum tambor se cala com a repressão e  proibição, mas se preserva, luta e celebra as identidades e riquezas da  cidade”, de acordo com a integrante do grupo Maria Moraes, que se  auto-identifica como artista de rua, travesti e ativista dos direitos  humanos. Para ela, quando se toca batuque num país racista como o  Brasil, o engajamento em manifestações sociais é uma escolha que garante  a reafirmação da presença negra, que luta pelo fim do silêncio dos  tambores e  – como bem retratam as loas da Nação de Porto Rico  (composições) 13 de maio não é dia de negro e Maracatu de Opinião – não  quer viver a farsa de que o genocídio acabou, de que as balas são  perdidas e de que o trabalho duro é a salvação.
 
 Criado em 2009 em  Manaus com o objetivo de tocar e ensinar o baque virado, o grupo  percussivo Maracatu Eco da Sapopema é outro coletivo que preza pelo  engajamento com agentes sociais para dar visibilidade à causa da  negritude. Com composições voltadas a retratar a realidade dos povos  amazônicos mescladas às temáticas de matriz africana, o grupo  participou, em 2017, de atos como a Marcha dos Excluídos e a Caminhada  da Conscientização Étnica e Racial, no bairro Compensa. Formado por  homens e mulheres com liberdade para desempenhar as funções que tiverem  mais aptidão, o Eco da Sapopema afirma como grupo identificar no cenário  musical de Manaus mais diversidade e abertura a novas musicalidades,  inclusive, sendo comum a presença de arranjos de maracatu em músicas de  artistas manauenses.
 
 O maracatu, porém, não é o único som que  ecoa no clamor das manifestações da capital amazonense. O samba também  integra a resistência local, através do coletivo de educação musical e  divulgação da cultura afro-brasileira Sambaqui, termo originário da  junção das palavras samba e tambaqui. Formado principalmente pela classe  universitária e artistas engajados em movimentos político-sociais, o  projeto, segundo o ator e integrante Ismael Farias, é indiscutivelmente  um elo importante entre a arte e as causas sociais que defendem as  minorias. “O Sambaqui é um movimento apartidário que agrega pessoas das  mais variadas tendências, mas principalmente aquelas com uma visão mais à  esquerda, comprometidas com a classe trabalhadora e os menos  favorecidos do nosso país”, afirma. Comprometido com causas ligadas à  Educação, o coletivo participou, em 2016, de um ato contra a Lei da  Mordaça, e esteve, em 2015, entre as atrações do calendário de  atividades da greve dos professores da Ufam.
 
 Em defesa e  preservação dos direitos e conquistas sociais, estes coletivos locais  seguem firme no cenário local utilizando a música e a arte de maneira  geral como instrumento para amplificar o clamor popular que vem tomando  conta das ruas.
 
 Foto: Daisy Melo
 
 Fonte: ADUA
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