| Data: 04/06/2018
 
 Mulher, negra, mãe e cria  da favela da Maré. Era com essa simplicidade que Marielle Franco,  socióloga e vereadora eleita para a Câmara do Rio de Janeiro pelo  Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) com quase 50 mil votos, se  apresentava, antes de ser brutalmente assassinada no dia 14 de março, em  um atentado contra a democracia e a luta feminina. A morte da vereadora  uniu milhares de Marielles de todo o mundo. E são elas que continuam  lutando por respeito, dignidade e mais representatividade, enfrentando o  desafio de ser mulher numa sociedade machista, misógina e  preconceituosa como a brasileira, onde a cada duas horas uma mulher é  assassinada. Em 2017, 4.473 delas foram mortas no país, crimes muitas  vezes não esclarecidos – como o de Marielle, até o momento.   
 “O  bárbaro assassinato da companheira Marielle Franco e seu motorista  Anderson Gomes é parte de toda essa barbárie de ódio desencadeado contra  as mulheres que ousam desafiar o sistema capitalista e seus agentes.  Muita luta ainda precisa ser travada para que os grupos oprimidos tenham  seus direitos respeitados, mas acredito que tal luta não terá resultado  se cada um gritar sozinho, precisamos fortalecer a luta dos/das  oprimidos/das ao lado da luta da classe trabalhadora para dizer chega de  opressão e exploração”, afirma a servidora pública e membro da Central  Sindical e Popular (CSP-Conlutas), Juliana Frota. 
 A necessidade de  avançar é imperiosa, pois não há garantias de que o que foi conquistado  será mantido, segundo Juliana. “O capitalismo, através de seus agentes  no Estado, age brutalmente na retirada de direitos e ataque às  liberdades democráticas. Não podemos recuar, mas avançar na luta para  conquistarmos pautas históricas como o direito à descriminalização do  aborto, para que as mulheres pobres não morram mais em clínicas  clandestinas; a redução da jornada de trabalho, porque essa jornada  continua em casa; contra o feminicídio que vitima mulheres, sobretudo as  pobres e negras; pela criação de creches que atendam a demanda daquelas  que precisam deixar seus filhos para trabalhar e estudar; além da  ampliação da lei Maria da Penha com mais recursos como casas abrigo,  amparo físico e psicológico”, afirma. 
 Soma-se a isso a luta diária  feminina por espaços em todos ambientes, inclusive nos dominados por  homens, como na política. “Há ainda muitas barreiras a se quebrar e  muito chão para construir, alcançar outras mulheres, não somente as  intelectualizadas, mas as mulheres trabalhadoras da fábrica, domésticas,  das classes mais baixas, as mais subjugadas, mais sufocadas, clamando  por um grito de liberdade contra toda uma estrutura de poder defasada do  patriarcado”, avalia a professora e militante do Partido Comunista  Brasileiro (PCB) do Amazonas, Taly Nayandra Figueira. 
 Ex-candidata a  vice-prefeita de Manaus em 2016 pelo partido, Taly sabe bem o  significado do grito de liberdade.  Há um ano ela foi vítima de tortura  promovida pelo aparato repressivo estatal brasileiro. “Na época,  denunciamos o fato à imprensa e a vários órgãos. Por temer pela minha  vida, fui obrigada a sair do estado e me manter isolada, sem comunicação  e aparição pública durante oito meses”, contou ao lembrar emocionada o  caso de Marielle que é vista por ela como “exemplo de garra e de uma voz  representante de milhares de mulheres, sejam elas negras e/ou LGBTs  desse Brasil a fora”, completou. 
 Para a coordenadora do Movimento  Mulheres em Luta (MML/AM), Damiana Amorim, a mulher precisa assumir o  protagonismo em sua luta contra todo tipo de opressão e isso perpassa  pela unidade. “A classe trabalhadora feminina tem exercido um papel  fundamental que demonstra que a luta das mulheres contra a opressão não  está separada da luta de classes em geral contra a exploração. Essa  pauta deve ser enfrentada por todos”, afirmou. 
 No entendimento das  militantes, é preciso superar a obscuridade do pensamento imposto pelo  patriarcado; o recrudescimento da extrema direita – conservadora e  fascista – e, ainda, a ordem estrutural e hierárquica que retira da  mulher a autonomia de ser capaz de reconhecer sua força e seu papel na  luta coletiva pela emancipação feminina. 
 Fonte: ADUA
 |