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  05/05/2023 - por Tomzé Costa



“Em Guerra” e o movimento sindical no cinema



 

 

O 1º de maio nos leva sempre a refletir as relações entre capital e trabalho e o papel fundamental do trabalhador. O cinema, de forma marcante, há muito tem apresentado essa relação em filmes considerados clássicos. Alguns são referenciais: “Germinal”, de Claude Berri, “A Classe Operária Vai ao Paraíso”, de Elio Petri, “Mimi, o Metalúrgico”, de Lina Wertmuller, e o brasileiro “Eles Não Usam Black Tie”, de Leon Hirszman.

 

Aqui apresento um mais recente e que trata a luta constante dos trabalhadores também num ambiente recente, como a dizer que o contexto tecnológico, digital, de algoritmos em que nos inserimos não obliterou essa luta histórica – Em Guerra (2018), de Stéphane Brizé. Não é a primeira vez que o diretor Brizé elege essa temática em sua filmografia. Já havia trabalhado em “O Valor de um Homem” (2015) e “Um Outro Mundo” (2021), mas na produção de 2018, ele se aproxima bem mais do pensamento da luta sindical. Neste filme, podemos apreciar um traço muito próximo do cinema político de Ken Loach.

 

Uma frase de Brecht – “Quem luta, pode perder; mas quem não luta, já perdeu” inicia o filme dando seu tom. A trama mostra que uma fábrica de propriedade de Perrin Industrie, um conglomerado local em Agen, está na verdade nas mãos do grupo alemão Dimke, outro enclave fantasmagórico de empresas, e não cumpre o prometido de não despedir operários nos próximos cinco anos após fazer acordo de manter os seus salários sem aumento, “para salvar a companhia”. No entanto, dois anos depois ameaça fechar a fábrica, deixando mais de mil trabalhadores na rua. A partir daí, vemos a luta dos operários para que a empresa cumpra o prometido, tendo à frente o líder sindical de esquerda Amédéo.

 

 

 

A câmara de Brizé passeia entre a ficção e um certo tom de documentário, quando acerta cenas com a câmara na mão, closes e um ritmo bastante realista. O personagem Amédéo, vivido por seu ator-fetiche Vincent Lindon, nos é apresentado como um verdadeiro líder sindical, que carrega nos ombros a luta e suas consequências. Um lutador intransigente. Contudo, é essa mesma postura que leva os trabalhadores à divisão da categoria, exatamente como deseja a direção da multinacional.

 

Apesar de as partes litigantes – trabalhadores e empresários – serem bastante óbvias no filme e, portanto, amplamente identificadas na realidade social, vale salientar o papel do Estado. Nas sociedades democráticas, o Estado tende a assumir um papel neutro, de conciliador, como se tal posição fosse possível. Vemos um pouco disto no filme, mas logo essa postura burocrática e hipócrita a serviço dos poderosos transparece e seu papel de facilitador das negociações vinculadas aos interesses patronais ao prorrogar ao máximo essas “tentativas de negociação” provoca a insatisfação e a divisão dos trabalhadores. Por sua vez, o interesse quase canibal dos meios de comunicação apoiando assiduamente a direita exploradora, reforça o papel de conciliador do Estado e a irredutibilidade dos operários, como se sua luta por manter empregos não fosse um direito justo. Também nada distante da realidade que nos cerca.

 

O filme não dá trégua ao espectador. A todo momento vivenciamos a tensão dos trabalhadores na luta por seus direitos nas negociações, no ambiente sindical, nas manifestações contra o governo. Todas essas ações são conhecidas de nós porque o que vemos no filme bem pode ocorrer em qualquer outra parte do mundo, estão constantemente nas mídias jornalísticas e redes digitais. O final é algo forte, quase inverossímil, distante do tom documental, próximo da chantagem emocional. Talvez seja preciso esperar um bom tempo após o fim da exibição para que o espectador raciocine sobre as ideias lançadas. Um necessário exemplo do cinema combativo.

 

Ficha Técnica

 

Título original: En Guerre

Direção: Stéphane Brizé

Elenco: Vicent Lindon, Mélanie Rover, Jacques Borderie

Roteiro: Stéphane Brizé, Olivier Gorce

 

 

*Tomzé é professor aposentado da Faculdade de Informação e Comunicação (FIC) da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), diretor da ADUA (2022-2024) e criador da página Tomzé comenta Cinema! (www.instagram.com/tomzecosta).







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