Data: 28/02/2018
Faleceu, nessa terça-feira (27), aos 81 anos, vítima de um câncer no pâncreas, o economista político e sociólogo brasileiro Theotônio dos Santos. Um dos formuladores da Teoria da Dependência, foi também um dos principais formuladores da Teoria do Sistema Mundo e co-fundador do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso). Santos escreveu 38 livros, foi co-autor ou colaborador outras 78 publicações e seus trabalhos foram traduzidos em 16 idiomas.
O economista Fernando Corrêa Prado, professor da Universidade Federal da Integração Latino-americana (Unila) e coordenador do Grupo de Trabalho em Teoria Marxista da Dependência, ligado à Sociedade Brasileira de Economia Política (GT-TMD/SEP), ressaltou que Theotônio dos Santos foi um dos principais articuladores e protagonistas de todas as controvérsias políticas e intelectuais fundamentais da América Latina, desde a Revolução Cubana até o momento presente. “Entre tantas coisas, ele participou da formulação, articulação e divulgação do que depois foi sendo plasmado numa Teoria Marxista da Dependência, cujo objetivo fundamental era construir as interpretações a partir do marxismo sobre o capitalismo latino-americano e as formas de sua superação. Formar uma estratégia revolucionária para a América Latina, para as funções específicas. Acho que essa foi umas contribuições mais importantes do Theotônio e de todo esse arcabouço teórico plasmado na Teoria Marxista da Dependência”.
Entre tantos trabalhos publicados por Theotônio, Prado destaca a obra “Socialismo ou Fascismo: o dilema latino-americano”, de 1969, como bastante pertinente para a realidade atual de retrocessos nos direitos da classe trabalhadora. “Nesse livro, ele já apontava com clareza que, ou o continente, nas suas lutas populares de trabalhadoras e trabalhadores, avançava radicalizando suas pautas e suas bandeiras rumo ao socialismo, ou haveria uma onda contrarrevolucionária, contra insurgente, o que de fato ocorreu, com os golpes militares em diversos países da América Latina”, comentou. A publicação será reeditada, para marcar seus 40 anos, pelo Instituto de Estudos Latino-americanos da Universidade Federal de Santa Catarina.
“Se Theotônio se vai fisicamente deste mundo, o sonho de um socialismo democrático e a continuidade de sua obra permanecem como desafio aberto para as novas gerações e para os muitos que diretamente ou indiretamente influenciou”, declarou, em homenagem, Carlos Eduardo Martins, professor do Programa de Estudos sobre Economia Política Internacional (UFRJ), coordenador do Laboratório de Estudos sobre Hegemonia e Contra-Hegemonia (LEHC/UFRJ) e coordenador do Grupo de Integração e União Sul-Americana do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso).
Em nota divulgada pela Revista Diálogos do Sul, Carlos Eduardo Martins ressaltou que o trabalho de Theotônio dos Santos “é referência indispensável para se compreender as grandes tendências e contradições do capitalismo contemporâneo, sua crise civilizatória, assim como as mazelas do capitalismo dependente, que transforma este Brasil, com tanta potencialidade e vocação democrática, num país tão persistentemente desigual e injusto, cuja vida é violada pela reemergência estrutural de tendências fascistas que se entrelaçam com as liberais. Lamentavelmente, a tragédia política brasileira que estamos vivenciando e o parêntesis democrático que foi a Nova República, só ressaltam a agudeza crítica e a pertinência de sua obra.”
*Com informações da Diálogos do Sul / OperaMundi
Fonte: ANDES-SN
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