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  04/12/2023



Estudos afro-brasileiros são temas de seminário apoiado pela ADUA



Mestre Bel e Iolete Ribeiro dialogaram sobre “Luta sindical e afirmação de direitos do povo negro” em mesa-redonda - Foto: Alonso Junior 

 

Luta sindical; afirmação de direitos do povo negro; cotas raciais; racismo institucional e criminalização da cultura negra. Esses foram os temas debatidos no I Seminário de Estudos Afro-brasileiros da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), ocorrido de 16 a 21 de novembro, com organização da ADUA.

 

A mesa-redonda “Luta sindical e afirmação de direitos do povo negro” abriu as atividades com a participação da professora Iolete Ribeiro – integrante do Grupo de Trabalho Política de Classe para as Questões Etnicorraciais, de Gênero e Diversidade Sexual  (GTPCEGDS) da ADUA –,  que tratou sobre “Cotas raciais e racismo institucional na Ufam”, e do docente da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), Josivaldo de Oliveira, o Mestre Bel, que abordou o tema “Criminalizar as culturas negras: estado, direito e o que os agentes culturais têm a dizer para o movimento sindical”. O encontro foi realizado no auditório da ADUA “Professor Osvaldo Coelho” e está disponível no canal da Seção Sindical, no YouTube.

 

A professora Iolete Ribeiro destacou a importância de a universidade estabelecer diálogo com grupos historicamente excluídos e incorporar conhecimentos locais. “Estamos perpetuando modelos de exploração de outras regiões e negligenciando as potencialidades existentes aqui. Isso configura uma forma de perpetuar o racismo, criando obstáculos para a permanência de estudantes negros e indígenas nas instituições de ensino, mesmo com a implementação das cotas, o que é insuficiente”.

 

Durante sua apresentação, enfatizou que há uma perpetuação do racismo e o aumento da violência contra pessoas negras, incluindo crianças e adolescentes. “Os indicadores já deveriam, por si só, evidenciar a relevância do tema da política de cotas em concursos públicos e na permanência de estudantes”, argumentou Iolete, ressaltado que a iniciativa para cobrar ações têm surgido, principalmente, da mobilização estudantil.

 

A docente defende que a responsabilidade de cobrar ações deve ser de toda a comunidade acadêmica, pois agir passivamente perpetua o racismo, gera feridas e leva ao adoecimento e à morte. “Precisamos de ações antirracistas. A universidade não pode ficar inerte”.

 

Mestre Bel direcionou sua fala para a luta por reconhecimento, fazendo a observação de que, no decorrer da história, o processo de criminalização das práticas culturais afro-brasileiras é perpetuado pelo Estado. “É um processo estrutural de criminalização silenciosa de nossas práticas culturais, e esse tipo de criminalização ocorre porque constitui uma mentalidade racista. Nos ensinaram a sermos racistas, a agir com indiferença em relação aos crimes contra os direitos humanos”.

 

Para o docente, as práticas religiosas afro-brasileiras e a capoeira, embora não sejam mencionadas diretamente na legislação, são impactadas por uma mentalidade enraizada no racismo, que as configuram como “crimes”.

 

Mestre Bel defende que a responsabilidade de mudar essa mentalidade também é uma tarefa da universidade, que reflete a sociedade. “A universidade que temos não é a universidade que queremos, nem a universidade que precisamos, ela é a universidade que temos. A universidade que queremos, de fato, é uma universidade diferente. E isso não significa que sejamos contra a universidade”, afirmou.

 

Na avaliação de Mestre Bel, “se antes a repressão era policial, agora é ideológica”, os(as) agentes culturais têm muito a contribuir com o movimento sindical e este, por sua vez, pode ser fundamental na transformação da universidade para torná-la mais inclusiva e representativa.

 

O encerramento do Seminário ocorreu com a conferência remota “Raça e identidade”, ministrada pelo professor Muniz Sodré (UFRJ). Dentre as reflexões compartilhadas está a de que “há um desconhecimento muito grande sobre o período da escravatura. Existem livros que relatam que as pessoas negras vindas de algumas partes da África não tinham capacitação técnica e não podiam ser contratadas, mas, na verdade, havia negros ferreiros, ourives, construtores, lavradores. É uma inverdade que os negros não tinham capacidade técnica. Esse é um discurso eugenista de que quem nasce negro não nasce bem, e consolida um racismo de segregação, de inferiorização”.  A conferência completa pode ser vista no canal da ADUA no YouTube.

 

Parte da programação do Seminário ocorreu na Ufam, em diferentes setores, com debate, lançamentos de livro e documentário, e rodas de capoeira e de samba.

 

Pesquisadores(as) da Ufam e de grupos externos dialogaram sobre cultura afro-brasileira na região amazônica - Foto: Alonso Junior

 

O encontro foi uma iniciativa acadêmica e cultural concebida para impulsionar e promover discussões interdisciplinares relacionadas à cultura afro-brasileira na região amazônica, com intenção de destacar a importância do respeito à diversidade cultural e étnica.

 

O evento foi organizado por docentes, discentes e Técnico-administrativos(as) da Educação (TAEs) da Ufam ligados ao Programa de Pós-graduação em Educação (PPGE); Programa de Pós-graduação em Antropologia Social (PPGAS); ADUA e outros grupos de estudo.

 

Para o integrante do Instituto de Ciências Periféricas, Gabriel Verçosa, pesquisador que mediou o diálogo com Muniz, “a participação no seminário foi muito significativa, por envolver a comunidade acadêmica e pessoas que não estão inseridas no espaço universitário, que estudam e debatem as práticas, os saberes e a história da população afro-brasileira. Acredito que essa seja uma das principais contribuições do evento”.

 

 



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