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Falta de “visão sistêmica” emperra implantação do Siga-Ufam, afirma docente



Data: 08/06/15

Considerada um dos maiores fragmentos florestais urbanos do país, a área da sede da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) apresenta desafios tão grandes quanto sua extensão, para manter em harmonia o meio ambiente, a segurança e a saúde dos usuários do Campos Universitário – um público estimado em 35 mil pessoas. O “tamanho” desse esforço está sintetizado no anteprojeto do Sistema Integrado de Gestão Ambiental (Siga-Ufam), apresentado pela 1ª vez ao público na última quarta-feira (1º), na sede da ADUA, em evento organizado pelo Movimento Educar para a Cidadania (MEC).

A missão de reunir ideias num anteprojeto para subsidiar a discussão e implantação do Siga na instituição, observando a previsão legal, os estudos já realizados e a experiência de outras Instituições de Ensino Superior (IEA), coube ao professor Dr. Albertino Carvalho, à época em que era um dos assessores especiais da Reitoria da instituição, nos anos de 2011 e 2012. Durante a palestra, Carvalho apresentou as diretrizes do Siga e fez uma análise crítica sobre a questão ambiental na Ufam.

“Um dos problemas para a implementação da gestão ambiental nas IES é a falta de visão sistêmica da instituição, pois ainda não houve o alcance necessário para deslanchar as propostas apresentadas”, disse o docente, enfatizando que não se trata de uma dificuldade apresentada apenas pela Ufam. Na instituição, ele acrescenta ter conhecimento apenas de “algumas iniciativas pontuais” sobre o tema.

Instituído pela Resolução 002/2012, o Siga-Ufam concentra as diretrizes da Política Ambiental e descreve simples e objetivamente a visão, missão, metas, padronização, diretrizes operacionais e indicadores sobre a gestão ambiental na Ufam. “É um sistema cíclico e que se retroalimenta”, explica o docente.

O Sistema é constituído pelo Conselho Universitário (Consuni), a Reitoria e Pró-Reitorias, o Centro de Ciências do Ambiente (CCA) e as unidades acadêmicas e administrativas, às quais compete executar e fiscalizar as atividades visando a qualidade ambiental. Mas, desde sua instituição, há mais de quatro anos, a implantação do Siga avança a passos lentos, na avaliação de Carvalho, quando considerado o ‘ciclo metodológico’ que deve ser observado no estabelecimento de um processo de gestão ambiental.

“Na Ufam, o Siga está na primeira etapa: já temos o compromisso e a Política Ambiental, mas ainda não declaramos a que viemos”, disse Albertino. De acordo com ele, apesar da vigência da Resolução 002/2012, “falta a redação e a publicação da declaração pública da Política Ambiental”, item obrigatório conforme a legislação sobre o tema.

Carvalho também criticou a falta de presença da questão ambiental no discurso institucional. “Todo mundo tem que falar disso: Reitoria, diretores, chefes de departamento, servidores e até colaboradores externos”, afirmou. Ele citou como exemplo a recente revisão do Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), com as metas para o período 2016-2025, que dedicou pouco espaço à questão ambiental. “Essa revisional tem uma página sobre a questão ambiental na Ufam. A visão sistêmica está descartada nesse PDI. Particularmente, eu acho isso muito pouco”, continua.

O docente também recorreu aos pesquisadores Helder Careto e Raquel Vandeirinho, especialistas na questão ambiental, para reforçar a ideia de que as instituições precisam praticar aquilo que ensinam. “A gente faz mil pesquisas de PIBICs [Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica] sobre vários assuntos, mas não consegue escrever um trabalho sobre um problema interno da instituição. Temos várias instâncias de ensino meramente acadêmicas, com especialização e mestrado em gestão ambiental, entretanto aplicamos isso para outrem”, acentuou.

Conheça algumas ideias

Uma das sugestões descritas na versão preliminar do Siga diz respeito à acessibilidade e mobilidade nos deslocamentos dentro dos campi, como a utilização de novas formas de transporte de uso coletivo, além do oferecimento um sistema de transporte interno que atenda aos bons critérios de frequência e conforto do usuário. Outra indicação é a adaptação de logradouros e áreas de passagem, facilitando a circulação, principalmente de idosos e de pessoas com deficiência.

A implantação de instalações de apoio em áreas verdes para os usuários dos campi é outra proposta no âmbito no planejamento integrador do meio natural. Outra sugestão é a elaboração e execução de um plano de proteção dos animais silvestres, de avaliação e acompanhamento de animais domésticos e um de plano de plantio de árvores, para a manutenção da qualidade ambiental.

Sobre o uso da água, a alternativa é a criação de mecanismos que eliminem o desperdício do líquido na rede de distribuição e pelo consumo interno, além da criação de projetos para o aproveitamento de águas pluviais, assim como a proteção das nascentes situadas nos campi. Destacado com um dos principais bens que a Ufam dispõe, a cobrança a respeito da preservação desse recurso foi maior.

Durante o evento, o professor aposentado e médico sanitarista Menabarreto França lembrou o recente caso de contaminação da água utilizada na unidade acadêmica de Benjamin Constant, constatada em laudo da Vigilância Sanitária do município. “Essa água não pode ser usada de modo algum. A falta de uma fonte de água potável, própria para uso, é uma afronta à saúde pública”, criticou. Análise do órgão competente identificou a presença de coliformes fecais inclusive no açude que abastece a unidade.

No âmbito das atividades administrativas, uma das preocupações levantadas na versão preliminar do Siga é o desenvolvimento de estratégias de sensibilização para a redução de consumo e de impacto do uso de papel, bem como mecanismos que controlem as perdas na utilização do produto e ainda ações que possibilitem a reciclagem. Além disso, o Sistema apresenta preocupações com o descarte de resíduos.

A respeito dessa questão, a professora do departamento de Química Karime Bentes informou que a instituição está fazendo um levantamento diagnóstico dos resíduos que são descartados pela Ufam e já dispõe de informações sobretudo das unidades acadêmicas de fora da sede. “Nós identificamos diversos tipos de resíduos: os de construção, os infectantes [relacionados ao setor da saúde], os perigosos [usados nos laboratórios] e os recicláveis. Precisamos tratar alguns deles, para termos resultados promissores”, disse a docente.

Segundo Karime, um plano de gestão de resíduos está em elaboração. “Professores e técnicos de diferentes áreas estão preocupados com a questão ambiental. Mesmo a passos curtos, a nossa preocupação é que ela [política] seja robusta e não se perca. O trabalho precisa ser contínuo”, afirmou. A professora também destacou as comissões que estão com trabalhos em andamento e as ações implementadas.

“Selo Verde”


Outra solução apresentada no Siga é o “selo verde”, que vislumbra a cobrança de certificação de materiais das empresas contratadas. “Numa obra, por exemplo, a Ufam poderia verificar de onde vem a areia para construir um prédio aqui e se [o produto] é de área licenciada. Trata-se de um parceiro da instituição, mas isso pode estar presente na licitação, de modo que as empresas habilitadas a concorrem apresentem ‘atestado de boa conduta ambiental’”, exemplifica Albertino Carvalho.

O docente destacou ainda a necessidade de criação de uma “Superintendência de Meio Ambiente ou de Gestão Ambiental, com uma estrutura ágil, comprometida com a política, de fácil acesso e extremamente presente em todos os setores da Ufam”. Uma espécie de estrutura capaz de dar respostas ágeis e efetivas quanto ao gerenciamento das questões ambientais.

Para o professor, uma estratégia é imprescindível: estimular a participação da sociedade civil, principalmente das comunidades vizinhas, na defesa do patrimônio em que se constitui a sede e as demais unidades acadêmicas. “É impossível gerenciar um contingente humano desse porte sem gestão ambiental, sem envolver as pessoas”, concluiu.

Para a especialista em Educação Ambiental e secretária da ADUA, Kelly Libório, responsável pela coordenação da mesa durante a palestra, o Siga-Ufam é um anteprojeto que precisa sair do papel “urgentemente”. “A partir do momento que for implantando, ele [o Sistema] vai cumprir a função de gerir a questão ambiental na Ufam. A política sai do papel e se torna uma prática”, arrematou.

Fonte: ADUA



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