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  04/08/2020 - por Bernardino Claudio de Albuquerque





Biossegurança  é  o  conjunto  de  ações  voltadas  para  a   prevenção   ou   eliminação  de  riscos  que  possam  comprometer a saúde humana, dos animais e do meio ambiente. Essa estratégia  foi  estruturada  no  Brasil  somente a partir de 1970, com o advento da incorporação de novas tecnologias  na  área  da  saúde  humana  e animal e nas ações específicas no meio ambiente. 

 

Na  década  de  1980,  a  Organização   Mundial   da   Saúde   (OMS),   classificou esses riscos como bioló-gicos, químicos, físicos, radioativos e ergonômicos.  Sua  regulamentação  no   Brasil   foi   formalizada   apenas   em 1995 com a criação da Comissão Técnica  Nacional  de  Biossegurança  (CTNBio).  Com  foco  na  saúde  humana,  foi  criada,  dentro  do  Ministério da Saúde, a Comissão de Biossegurança em Saúde, que tem como objetivo definir estratégias de atuação,  avaliação  e  acompanhamento  das  ações  de  biossegurança,  assim  como efetivar a articulação de áreas afins ao tema.

 

Para os riscos inerentes a agentes biológicos, definidos por um elenco  de  indicadores,  a  Comissão  de  Biossegurança  em  Saúde  adotou  a  estratificação  em  quatro  níveis,  de acordo  com  o  potencial  de  risco  à  saúde  da  população.  Daremos  ênfase  para  o  risco  4,  que  compreen-de  agentes  biológicos  que  oferecem  alto risco individual ou coletivo, alta transmissibilidade   (respiratória   ou   desconhecida) e que causam doença humana,  quase  sempre  sem  disponibilidade de tratamento específico, portanto  de  alta  letalidade.  Dentro  deste  contexto,  enquadra-se  o  SAR-S-Cov2,  responsável  pela  atual  pandemia no mundo.

 

Lutar  contra  o  desconhecido  é  sempre um enfrentamento desigual, exige  habilidade,  observação,  produção de conhecimento e, acima de tudo, muita prudência na definição de  estratégias  e  ações  direcionadas  ao seu controle ou eliminação.

 

O novo corona vírus chegou surpreendendo o mundo, trazendo em sua bagagem, características desafiadoras  como:  modo  de  transmissão  de alta eficiência no que tange a taminação  de  pessoas,  alta  virulência para a determinação de quadros graves e óbitos, a não responsividade a  drogas  atualmente  utilizadas  contra agentes virais e, o mais importante, ter o homem como reservatório e fonte  de  infecção,  possibilitando-o  circular livremente em alta velocidade e eficiência, frente a uma popula-ção altamente susceptível a infecção.

 

Após  seis  meses  de  convivência  com esse novo vírus, a produção do conhecimento,  apesar  dos  esforços,  não foi suficiente para alcançarmos um enfrentamento mais efetivo. Pra-ticamente  nos  mantemos  na  defensiva, sem sair para o ataque por falta de armas eficientes.

 

Falar  em  biossegurança  no  contexto da Covid-19 é reunir o conhecimento atual para o estabelecimento de  estratégias  e  ações  que  possam  minimizar os riscos em determinada população  e/ou  espaço  geográfico. Com a epidemia em curso, a primeira pergunta que nos vem à mente é: qual é o nosso atual cenário em relação  à  susceptibilidade  à  infecção  da  nossa  população  enquanto  indicador de vulnerabilidade? Novamente emerge   a   incerteza   decorrente   do   dinamismo da infecção, da baixa testagem,  baixa  representatividade  da  notificação de casos, bem como de dados  sobre  internações  e  óbitos  de  casos confirmados. Ademais, ainda não  dispomos  de  resposta  concreta  sobre  o  grau  de  imunidade  deixado  pela infecção/doença.

 

O   conhecimento   de   algumas   características  do  novo  corona  vírus,  como  sua  transmissibilidade,  patogenicidade,   infectividade,   virulência  e  sua  resistência  ao  meio  ambiente,  nos  traz  subsídios  para  interferirmos  na  cadeia  de  transmissão  e  no  processo  evolutivo  da  doença.

 

Portanto, à luz do conhecimento atual, nossas armas devem estar voltadas para ações direcionadas ao impedimento do contato efetivo entre o vírus  e  o  homem  susceptível,  caracterizadas  pelo  uso  de  máscaras  e/ou  protetores  faciais,  intensificação  da limpeza  e  higienização  de  superfícies e ambientes, intensificação de hábitos  de  higiene  pessoal  como  lavar as mãos com técnica e frequência  e  utilização  do  álcool  a  70%.  Dentre as medidas coletivas, contamos com o distanciamento social e isolamento de casos suspeitos. Deve-se manter a atenção especial aos grupos  de  maior  risco,  representados  pelos  indivíduos  com  60  anos  de idade ou mais, os portadores de doenças  crônicas,  obesos,  mulheres grávidas, entre outros.

 

O estabelecimento e o grau de exigência na aplicação dessas medidas deverão ser proporcionais a avaliação do risco definido em ambientes  ou  populações  expostas  à  infecção.  Portanto,  é  importante  que  tenhamos  noção  da  variação  do  risco  em  diferentes  contextos,  definindo-se  estratégias  e  ações que possam ser mais efetivas. Fa-tores e influências externas também devem ser levados em consideração como a capacidade local na  atenção  à  saúde  direcionada  à  Covid-19,  percentual  de  leitos  de  retaguarda  e,  principalmente,  percentual de ocupação de leitos de terapia intensiva.

 

Não  menos  importante,  no  processo de construção de um Plano de Biossegurança, é estabelecer um sistema de monitoramento da ocorrência de casos suspeitos na população alvo,  compreendendo a detecção precoce, definindo fluxos para encaminhamentos,  realizando  acompanhamentos  individuais  e  coletivos. A socialização de informações técnicas sobre a dinâmica de transmissão da  doença,  evolução,  predição  e  sinalização  de  eventos  são  elementos  fundamentais para uma firme adesão da comunidade alvo.

 

Por fim, é importante e mandatório  que  cada  instituição,  unidades  e  serviços,  elaborem  o  seu  plano   de   biossegurança   visando   o  retorno  parcial  ou  universal  de  suas   atividades,   buscando   desta   forma minimizar os riscos até que tenhamos  medidas  mais  efetivas  de  prevenção  como  a  imunização  da população através da vacina.

 

*Bernardino é médico infectologista, professor da Ufam, pesquisador da Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado e presidente do Comitê de Enfrentamento do corona vírus na Ufam.

 

Imagem: Getty Images/Reprodução



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